domingo, 10 de agosto de 2008

Está tudo bem. Até que uma espécie de bomba atômica, sem atomicidade e sem nada, caí no nosso meio. Se aquela tem o efeito destruidor de raio 15 km, a nossa pode afetar as pessoas mais próximas. Ela não destrói por fora, prefere corroer por dentro. Devagar. Ela tira as cores, apaga as luzes e desliga o som. Não se ouve nada com uma bomba dentro de nós, explodindo aos poucos, dominando o que alcança, enquanto ri descaradamente da nossa incapacidade de preveni-la ou de, já depois, remedia-la.

Você pára e pensa o que fez da vida, o que fez durante a vida. Se, de alguma forma, valeu a pena ter feito o que fez, se devia ter feito mais, ou até, se fez demais. Admitir que a morte nos domine em preto e branco, que nos leve para o mundo que ninguém viu e ninguém sabe, não é fácil. É triste, é pesado. É pesado saber que amanhã você pode não acordar, saber que seu corpo pode estar sendo degenerado por vermes, suas constituições carbônicas desconstituindo-se em partículas desprezíveis, suas moléculas formando outras cadeias, cadeias podres escondidas no sub-solo.

Não sei se é pior pensar isso da gente, posto que, estaremos imunes à dor quando acontecer, ou se o pior é quando acontece com alguém que estimamos. Pensar na morte, ou na dor da perda, só acontece quando o abismo está muito próximo. Tão próximo que dá até pra fechar os olhos e sentir o vento do imenso buraco negro à nossa frente. Do contrário, tapamos os olhos e vivemos ilusoriamente nesse mundo que criamos, onde tomamos por base quase que subliminar, o “isso nunca vai acontecer comigo”. Mas, acontece. Porque o abismo continua ali na frente, e quando a bomba explodir, você cai e se perde igual a todo mundo. Perde-se principalmente porque ele agarra os planos e apaga os objetivos. Derrama lágrimas nos olhos de quem nunca chora e consegue carregar o silêncio para os lugares mais barulhentos.
A bomba te leva pro abismo que exige a sua vida, e em troca te dá a morte.

2 comentários:

Marco Antonio Araujo disse...

Não acredito em imunidade à dor.

Welker disse...

Esse foi o jeito mais bem escrito de descrever a depressão que eu já li.